O município de Sátiro Dias,
situado a 165 quilômetros de
Salvador teve sua emancipação
política decretada pela Lei n.º
1032, em 14 de agosto de1955.
História
Junco
Arraial do Junco, primeiro nome do lugar, batizado pelos inhambupenses desde o início do povoamento, em 1884, foi dessublimado de sua áurea poética no dia 23 de junho de 1927, quando o governador Francisco Marques de Góes Calmon sancionou a Lei 1923, elevando o arraial do Junco á condição de 4º distrito de Inhambupe, com o nome de Sátiro Dias, à revelia do seu povo, haja vista nenhum dos entrevistados se lembrar desse topônimo antes da emancipação, em 14 de agosto de 1958, quando o deputado estadual, de nome João C. Tourinho Dantas, bisneto de Cícero D. Martins, o Barão de Jeremoabo, conseguiu aprovar a Lei n° 1.032, homologada no mesmo dia pelo governador Antonio Balbino e publicada no Diário Oficial do Estado no dia seguinte, que tratava da emancipação do 4º distrito de Inhambupe e a criação de um novo município, com o mesmo nome.
A Gênese
João José da Cruz era um mestiço, filho do português Roque Gonçalves com uma índia, e administrava uma das fazendas do seu pai, a Fazenda Cruz, na região de Nossa Senhora do Bom Conselho dos Montes do Boqueirão.
Por volta de 1850, a fazenda Cruz foi vendida para o Comendador João Dantas dos Reis, pai do futuro Barão de Jeremoabo, dono das terras que se estendiam de Itapicuru ao estado de Sergipe. Em uma das suas andanças na condução de gado para Feira de Santana, João José da Cruz conheceu o Conselheiro Dantas, político, dono do engenho Itapororocas, parente e protegido do Barão de Rio Real, e também parente e adversário político do Comendador João Dantas dos Reis.
Tendo recebido as terras da Fazenda Junco de Fora como doação do Visconde da Torre, o Conselheiro Dantas não tinha tempo para administrá-las, convidando, assim, João José da Cruz para ser administrador da Fazenda Junco de Fora, o que foi aceito. Anos depois, com a decadência do engenho e ascendência política, o Conselheiro colocou as terras da Fazenda Junco de Fora à venda e o seu administrador juntou suas economias, formou um consórcio com os seus irmãos, filhos e parentes e comprou a maior parte das terras, desmembrando-a, posteriormente, em várias fazendas, na proporção da cota dos consorciados.
Manoel José da Cruz, casado com a filha de um português abastado, recebeu um bom dote de casamento, como era costume na época, e pôde comprar mais terras. Considere-se que eram terras devolutas, com pouco ou nenhum beneficiamento, sem meios de escoamento da produção e por isso não tinham o valor de mercado que têm hoje.
As sedes das fazendas eram casebres de taipa, cobertura de pindoba e piso de chão batido. Assim surgiram as fazendas Caatinga, Pau-de-Bode, Pilão, Caiçara, Jurema, Tocaia e a Baixa Funda, de Paulo Vieira de Andrade. A outra parte foi vendida a Francisco Pereira da Rocha, proprietário da Fazenda Jacu, também em Inhambupe, parente do Conselheiro Dantas, que desmembrou em várias outras fazendas, entre elas, a Covas e a Jibóia.
Nasce um Arraial
De 1877 a 1879 houve uma terrível seca que assolou o Nordeste e causou grande destruição e a morte de 220 mil pessoas. Manoel José da Cruz, filho de João José da Cruz, conhecido como Manezinho dos Pilões, foi o primeiro a sentir os efeitos da seca de 77. Quando o sol esquentou e a água rareou na Fazenda Pilões, teve a idéia de procurar abrigo às margens da Lagoa das Pombas.
Capinou o lajedo existente onde hoje é a praça Juracy Magalhães Júnior e construiu sua casa, um pouco distante das enchentes, mas perto da água lagunar. O seu filho Manoel da Cruz, conhecido como Mané Moço, seguiu o seu exemplo e construiu ao lado. Com o prolongamento da estiagem, outros filhos foram obrigados a buscar abrigo à sombra das árvores que margeavam a lagoa, formando um aglomerado de três a quatro casas. Eram construções rudimentares, toscas, de taipa, cobertura de pindoba, feitas, provisoriamente, para o abrigo da estiagem.
No ano de 1884, Manoel subiu no morro mais próximo, olhou para as quatro casas erguidas na planície e fincou uma cruz, invocando a guarda e a proteção divina para o seu povo.
Construiu também uma casa de orações, ao lado da cruz, convidou o Cônego Maximiano Febrônio Esmeraldo, da paróquia de Inhambupe, para fazer suas pregações e rezar as orações penitenciais no local, e o povo passou a chamar o lugar de Cruz da Boa Vista, pela visão panorâmica que oferecia. As famílias dos fazendeiros locais, se deslocaram de suas fazendas para ouvir as palavras bíblicas proferidas pelo Cônego, surgindo a necessidade de se construir mais casas, para abrigo e descanso das famílias, e até mesmo para reunião social entre eles, nos intervalos das orações.
O povoado começou a crescer, com o estabelecimento de famílias, vindas de outros cantos e recantos para se refestelar às margens da Lagoa das Pombas e ouvir as pregações do Cônego Maximiano. Data desse ano, 1884, o início da construção do povoado, assim como o seu 1° nome oficial.
Texto extraído do livro Arraial do Junco de Ronaldo Torres